Série Pandemia (2020)
A pandemia me pegou desprevenida de materiais para produzir. E como muitas pessoas durante esse período, resolvi organizar gavetas e armários; reencontrei coisas do meu passado; descartei algumas inúteis e remexi emoções.
Dentre as coisas que encontrei, algumas estavam numa caixa. E nela, desde 1992, guardei fragmentos da minha produção no Atelier. Mas pra explicar melhor sobre ela, terei que voltar no tempo...
No início dos anos 90, eu morava no estado do Paraná, na região Sul do Brasil. Bastante distante do mar...
Porém, o desejo de morar no litoral me acompanhava desde menina. E em 92, resolvi mudar de estado e viver na Ilha Grande (RJ). Na época, pouco habitada, pouco explorada turisticamente por ter um presídio em atividade.
Nesse mesmo ano, aconteceu a Rio 92, Conferência Mundial para o Meio Ambiente. Como sempre estive engajada nas lutas pelas questões ambientais, decidi cuidar melhor do meu lixo, depois que esse tema foi debatido no evento.
Dentre as inúmeras mudanças de hábitos, estava em não mais jogar no lixo os restos de materiais que eu utilizava para produzir. Passei a guardar tudo nessa caixa; pincéis, bisnagas de tintas, materiais que utilizei, paletas, espátulas, formões, aventais, dentre outras coisas que estavam contaminadas com óleo e solventes.
Por 28 anos guardei todo o lixo que produzi nesta caixa; pedaços de mim, retalhos da minha produção.
Na falta de materiais para produzir, me permiti brincar sem compromisso e sem regras, e criar com aquilo tudo que encontrei.
Em meio à pandemia, morte aos milhares, tristeza, fome, desemprego, o fascismo dando sinais e o meu país destroçado, resolvi mergulhar nesse universo novo que é criar sem o desenho, sem formas e sem compromisso.
Resolvi inserir a "Espiral de Fibonacci" em vários trabalhos, homenageando assim esse grande matemático italiano.
E assim nasceu a "Série Pandemia".